quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SER

Autor:Vicente Gomes Pinto


O vento soprava forte e gelado naquela bela tarde de Maio. Havia poucas nuvens no céu, e o sol brilhava como poucas vezes durante esta época do ano, ao menos naquela cidade. Era o mês mais atípico dos últimos quarenta anos. Apesar de todos os problemas que estava enfrentando em sua vida, durante o já chamado Maio Solar, Richard encontrava-se no topo do seu prédio, onde trabalhava, aproveitando este dia descomunal. Ele costumava subir e ficar no terraço, sempre que tinha algum tempo livre, e seu melhor amigo, e sócio, William, geralmente o acompanhava em devaneios e conversas longas, que duravam várias horas após o expediente, muito melhor do que tomar cerveja com seus subordinados no centro de pesquisa. Entretanto, hoje Richard não estava acompanhado. Alguma coisa disse em seu inconsciente que ele deveria largar tudo o que estava fazendo, e ir para seu recanto refletir, mesmo sendo no meio da tarde, durante seu expediente. Já se passava algumas horas desde que ele subira, e embora não soubesse, ele estava sendo procurado.
De repente, a porta que dava acesso ao terraço abre, e apesar dele estar sentado de costas para a porta, Richard sentiu a presença de seu melhor amigo atravessando a passagem, e teve a confirmação quando a porta foi fechada com um pouco de delicadeza. Não demorou, e a voz de William chegou aos seus ouvidos:
– Aparentemente você está querendo ser demitido – Afirmou William, obviamente brincando, de forma que apenas Richard entenderia.
¬ – Engraçado, por que eu nem ao menos sei o que estou fazendo neste emprego... – Respondeu Richard, de forma bem humorada.
– O que faz aqui em cima Richard? Por que saiu de sua sala no meio do expediente, sem nem ao menos avisar? – perguntou Wiliam, com um pouco de preocupação em sua voz, apesar de demonstrar carinho por seu ouvinte.
– Eu acabei de lhe falar, não sei mais o que eu estou fazendo neste emprego. É por isto que estou aqui em cima, para refletir. Mas o que mais me assusta e me preocupa neste exato momento é como eu cheguei aqui em cima. Sinto como se algo me trouxesse para cá, como se eu devesse lhe revelar algo – Responde Richard, com uma leve preocupação em sua voz, mas estranhamente estava se tornando serena e constante.
– Como assim, Rick? Este é o emprego dos nossos sonhos, como nós sempre planejamos, desde pequenos. Parceiros. – Indagou William, confuso e preocupado com o que acabara de ouvir. – O que está acontecendo contigo? E como assim revelar algo?
– Bill, este é o emprego do SEUS sonhos, e foram meus, até recentemente. Meus objetivos de existência mudaram. Eu sinto como se nada disso me acrescentasse algo como ser humano. Não me sinto completo com toda esta riqueza que nós geramos, através da corrupção dos nossos ideais em prol de um benefício próprio. Caroline também não compreende o que estou pensando ultimamente. Qual é o sentido da vida, em que estamos preso e fadados ao término? – Indagou Richard, sempre mantendo o tom sereno que havia se estagnado em sua voz.
– E... Ee... Eu... – Gaguejou William, perplexo. Ele não conseguia compreender o que seu amigo acabou de falar e nenhuma outra palavra ousou sair de sua boca, ao menos naquele momento.
– Não precisa responder – Continuou Richard, sempre sereno – Só peço que escute. Há muito mais do que matéria tridimensional neste universo, Bill. Nós somos físicos, e sabemos um pouco melhor do mundo que o resto da população mediana. Esta nossa empresa, baseada na pesquisa de novas fontes de energia, através de anti-matéria e outros métodos mais eficientes, além de abertura de novos horizontes para as próximas gerações. O que nós fazemos deveria ser livre, mas nós nos corrompemos ela ganância e a avareza. Nós somos maiores do que isso, somos muito mais do que matéria, Bill. Nós somos consciências, presas em corpos tridimensionais, para que possamos nos desenvolver, criar, explorar. Eu estou falando da verdadeira essência de ser. – Um breve momento de silêncio fez-se entre os dois amigos.
– Do que você está falando, Richard? – Disse William, assustado e incrédulo, mas recuperado do discurso do amigo após este momento de silêncio. – Você só pode estar brincando! Você está enlouquecendo! Me diga que não está se drogando!?
Richard apenas sorriu do breve momento de incredulidade de seu amigo, mas isto não abalou. Pôs-se de pé e começou a caminhar pelo terraço, e logo retomou seu discurso: – Eu sabia que você não compreenderia, por isso pedi para que apenas escutasse, e não para que concordasse ou compreendesse, ao menos não neste primeiro momento. Não se preocupe, haverá tempo para que tudo o que estou lhe contando faça sentido para você. Por via das dúvidas, há um pequeno gravador, logo ali. – E apontou para o local onde estava sentado anteriormente – Peço que você guarde para consigo, para relembrar este momento, antes de sua morte.
William permaneceu no lugar em que estava. Via o amigo caminhar pelo terraço, por entre os aparelhos do edifício, indo em direção à borda. Não conseguia esboçar qualquer reação após termino desta parte. Ao perceber isto, Richard apenas continuou sua tese.
– Bill, fazem quatro dias que eu não durmo direito. Caroline até brigou comigo por conta disto, mas nada importa mais. Tornei-me algo maior, um ser completo, em termos de existência. Estou prestes a tocar as outras dimensões, e deixar nosso mundo material e tridimensional. Nestes últimos dias, desde que tive a revelação, eu tenho achado que é injusto eu guardá-la para mim, talvez seja por isto que minha mente fez com que eu subisse para cá, e dividisse isto contigo. Há alguns anos, nós testamos os portais para outras dimensões, uma teoria que há muito nós tínhamos dado continuação nos estudos, creio que você lembra. Na época, nós interrompemos o projeto por falta de conclusões, e este foi nosso maior erro, provavelmente. Se tivéssemos persistido mais um pouco, creio que teríamos conquistado um dos maiores feitos da humanidade, mas como nós não sabíamos o que faltava, nós paramos. É aí que entra minha revelação. – Richard fez uma breve pausa, e viu William o seguir para o parapeito do terraço.
– Eu descobri que nós já pertencemos à outra dimensão, Bill. Não sei lhe explicar qual delas é, se é a quinta ou qual das outras vinte e seis que acreditamos que existam. A nossa consciência faz parte deste espaço, e nele há outras entidades, e um ser supremo, que eu acredito que seja Deus, uma grande consciência que está em contado com todas elas ao mesmo tempo, você pode chamar de consciência coletiva, ou consciência divina. Quando nosso corpo tridimensional perece, nós voltamos a atuar apenas neste antro, de volta ao ambiente na qual pertencemos originalmente. Quando estamos lá, nós cedemos nossas memórias e experiências para o coletivo e para todos, e voltamos à criar um novo corpo tridimensional, para que possamos evoluir quanto seres. – Ao terminar mais esta explicação, Richard virou-se para William, para encará-lo, com um discreto sorriso no rosto, de orgulho. Ao ver que o amigo ainda estava boquiaberto, ele voltou a terminar seu discurso:
– Espero que você tenha compreendido o que eu acabei de falar, pelo menos esta parte de que nós estava,os certos sobre as outras dimensões. – Richard tentou acalmar William, e continuou: – Eu sei que você está me achando louco, mas meu artigo e meus cálculos estão todos em minha sala, completos. Eu gostaria que você lesse e publicasse ele, para que todos tenham este conhecimento. – De repente, sua voz começou a soar levemente melancólica, mas ainda apresentada a característica de serenidade, que apresentou desde o começo da conversa.
– O que você vai fazer, Rick? – Disse William, apreensivo e nervoso com a situação, prevendo o que estava por vir. – Por que você irá se suicidar? Por que desta forma?
– William, eu sou um físico renomado, assim como você. É mais do que justo que eu vá investigar minha descoberta, é a curiosidade científica. – Richard voltou-se novamente para a rua, e subiu em cima do parapeito do terraço. – Você adivinhou, vou me "suicidar", e não vou ao mesmo tempo. Você sabe que eu nunca acreditei em Deus, mas meus cálculos não estão errados. Eu vou de encontro a ele.
— Mas como você irá para esta outra dimensão, Rick? Nós nunca chegamos à conclusão nenhuma em nossos estudos. ¬– Reclamou William, com lágrimas nos olhos ao presenciar sua impotência. Agora ele começava a compreender o que estava acontecendo ali, apesar de acreditar que era apenas um suicídio.
–Bill, há uma forma de atravessar o limiar desta dimensão para a próxima, e eu irei ter sucesso. Eu só peço um ultimo favor, diga a Caroline que eu sempre amei ela, desde que a vi pela primeira vez. Cuide dela, para que nada lhe falte. Obrigado por tudo meu bom amigo... Adeus...
Richard abriu os braços, e deixou seu corpo cair. William entrou em desespero, não conteve suas lágrimas, e tentou agarrar a mão de seu amigo, mas não obteve sucesso. Bill viu o corpo de Rick despencar ao lado do prédio, e antes de atingir o solo, houve um grande clarão, como se um artefato nuclear explodisse, e nada mais foi visto, nenhum corpo. Richard uniu-se à consciência divina.

eu quero que você mande seus contos,suas ilustrações, e até videos que conte alguma historia para carlosgall2003@yahoo.com.br, e eu colocarei aqui, como fiz com este conto.

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Mande suas críticas, elogios, sugestões para carlosgeovanni@gmail.com
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