quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Insanidade

autor:Daniel Schiavoni

Despertou de repente em sua cama. Podia ouvir todas as molas rangerem. Suas pupilas se dilatavam, tentando capturar algum raio de luz fugidio. Nada. Apesar do frio que fazia lá fora, seu corpo estava coberto de suor. Escutava as batidas de seu coração, como um tambor contínuo, apressado, desesperado. Sentou-se na cama, limpou o suor da testa com as costas da mão e tentou recobrar a consciência. ‘É só um pesadelo’, mentiu.
Sabia o que era aquilo. Como prometido, seria essa noite. A qualquer momento, o sussurro em seu ouvido lhe daria a ordem. ‘Levante-se, Samuel’, ordenou-lhe a voz, enquanto cada pelo de seu corpo se eriçava. Não ousaria desobedecer. ‘Gire a maçaneta’. Cego pelo pavor e pela completa penumbra daquele corredor, desferia cada passo com hesitação. Apalpava as paredes numa vã tentativa de identificar o caminho. A escuridão o sufocava. Suas mãos puderam, enfim, sentir a quina da parede. Podia escutar o rítmico choque de seus dentes. Apoiou-se na parede e esticou vagarosamente seu pescoço em direção à sala. Estava ali, imóvel. ‘Venha, Samuel!’ E então, ele contemplou a criatura por completo. Era uma projeção de suas lembranças, que tomavam a forma de seu próprio corpo. Estavam lá, como pequenos demônios que, depois de trancafiados na bastilha do esquecimento, invadiam novamente a memória de Samuel.
Ele espremia com força suas pálpebras, enquanto suas mãos tapavam, em vão, seus ouvidos. Decepções, angústias e rejeições. Medos, sofrimentos e solidão. ‘Aceite, Samuel, aceite a loucura. Essa é a sua vida. Não há para onde fugir. Você pode encarar o fracasso e todas as desilusões que ainda te esperam? Abrace o presente da loucura!’
Aquele rosto vermelho, molhado pelas lágrimas que jorravam, finalmente se clareou. Por um segundo, fez se silêncio. Quando, de um canto da boca, um risinho debochado surgia, ficava maior e maior. Até que explodiu numa gargalhada histérica. Os músculos da face se contraíam enquanto seu corpo lagarteava no chão. E tudo o que se escutava era a gargalhada desesperada, assombrosa. E quem olhava entendia: pulara, enfim, no abismo da insanidade.


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